Nossa gente!!!
De 19/04/2010 até hoje se vão quase 5 anos sem postar.
Que coisa!!!
http://oespiritodacoisa.wordpress.com/
www.calcafrouxa.blogspot.com
Quando uma filósofa aponta para a tela onde acabaram de passar uma série de testemunhos de mulheres africanos, sobre o que faz com que se sintam africanas e diz "Detesto aquilo alí. Aquilo é um mundo atrasado" eu fico aqui na minha calça frouxa a pensar se realmente somos capazes de transcender as barreiras culturais?
Lembrei logo da antropóloga Margareth Mead que tirou conclusões apressadas estudando a cultura sexual de Samoa, deduzindo aquilo que já tinha na própria mente - uma cultura sexual liberal - somente para anos depois ser desmentida pelo estudo de Derek Freeman que demonstrou que se tratava de uma cultura violenta e sexista.
Então agora falo eu: Me dou o direito de pensar que nenhuma cultura é melhor ou pior que outra. A cultura é a produção coletiva de um povo para facilitar a convivência entre seus membros e com o meio em que vide. Isso vale para uma empresa, família ou povo. Somos todos produto e produtores dela.
A cultura terá sempre a função da manutenção do status quo, a força do Instituído. E é contra essa rigidez que exercitamos nossa personalidade, que fortalecemos nossa capacidade instituinte.
Cada um de nós é como a gota de água escorrendo sobre a rocha.
Erodindo-a e transformando-a em algo novo.
Pois bem. Não quero, não posso, e não vou julgar a cultura de ninguém. Só posso admirá-la com a percepção estética, como quando ouço um samba, um blues ou um jazz, ainda que eu saiba que são o soluçar de dor dos trabalhadores arrancados de suas raízes (Clara Nunes - Canto das Três Raças).
Enquanto isso vou fazendo a minha parte para essa cultura em que me insiro se torne um belo e polido seixo, cada vez mais confortável para os pés que por eles tiverem de passar.
Paz!!!!
Ok, vamos explicar:
De onde veio este nome e este blog?
Normalmente eu e minha mulher vemos juntos o Saia Justa. Onde quatro mulheres famosas - Monica Waldvogel, jornalista; Betty Lago, atriz e modelo; Márcia Tiburi, filósofa; e Maitê Proença, atriz; comentam inteligentemente os fatos e acontecimentos da semana.
Pois bem, passei a notar que a minha posição e a delas apresentava uma diferença essencial e a pensar se essa diferença não tinha a ver com uma posição culturalmente atribuída ao gênero.
Afinal também me considero inteligente.
Issami Tiba continua fazendo palestras com a sua idéia de homem-cobra, mulher-polvo. Homens, não pensem bobagem, por favor ...
Cobra e polvo fazem referência à forma com que cada gênero aplica sua atenção ao mundo. Ele parte de bases psicobiológicas que não são muito respaldadas cientificamente, mas chega em coisas que têm bastante respaldo na cultura. Assim, homens tenderiam a ter uma visão tunelada (cobra) que teriam desenvolvido durante as caçadas onde focavam a presa e esqueciam o resto (Será? Não sei se dá para esquecer que você também pode ser caça...). Enquanto as mulheres focam em vários elementos simultaneamente, característica desenvolvida enquanto coletavam e cuidavam da prole ao mesmo tempo (e haja prole! Pelo menos um por ano).
Como eu disse não concordo com ele, mas quando vejo os colegas de trabalho, com uma agenda tão ou mais lotada que a minha, perdendo 30 minutos de uma reunião discutindo o jogo de futebol de ontem, eu me convenço que o homem está certo. Ou seja, naquela hora agenda, objetivo, programação, e outros assuntos sérios estão fora de foco e, enquanto o futebol não morrer, não adianta falar de mais nada.
Vou me meter a teórico e propor outra idéia. Quem sabe o Tiba lê esse Blog ...
Mulher na nossa história pessoal e cultural está associada a vida, parto, nascimento, amamentação, acolhimento, fusão, reprodução, etc. Elas são as verdadeiras mantenedoras da estrutura famíliar. São elas que buscam, juntam, mantêm. Por isso a idéia de morte é tão profundamente insuportável para elas. Morte de tudo, até mesmo da briga de ontem, ou pior daquela de 10 anos atrás.
Os assuntos são imortais, especialmente aqueles que chamaram atenção. Um grande amigo meu dizia que não dava festa para as pessoas do trabalho em casa porque sempre a mulher vinha perguntar "Não foi com esse cara aí que você brigou cinco anos atrás?"; e ele, com certeza já não lembraria mais nem de que briga ela se referia. Afinal já tinham passado muitas partidas de futebol e reuniões bem sucedidas.
Com essa imortalidade, os fantasmas das mulheres vão cercando seus caminhos até o ponto de não haver nem mais como dar o próximo passo. Não será isso a própria saia justa?
Já nós os homens sempre fomos impedimento, luta, corte, separação, diferença, individuação, em uma palavra - morte. Vivemos assim nossas coisas. Elas têm início, meio e fim, ou seja, nascimento, vida e morte. Assuntos resolvidos não existem mais. Morreram.
Lembro de um workshop que minha mestra em Gestalt fez. Em determinado momento nos dividiu por gênero e pediu para que, com mímica, contássemos para os outros participantes como tinha sido se tornar homem ou mulher. Em poucos minutos já havia um mal-estar na sala. Enquanto o grupo dos homens chorava ao reviver suas histórias, o das mulheres ria histericamente (sabe como é aquele clássico "qui, qui, qui").
A diferença estava alí: homens encaram um assunto buscando a melhor forma de encerrá-lo e declará-lo morto. Mesmo que para isso tenhamos de enterrar uma parte nossa junto. Uma vez morto e sepultado o assunto desaparece da atenção e ficamos com as calças frouxas para seguir caminhando.
Dái este blog. Me perguntar qual seriam as soluções calça-frouxa para as saias-justas da meninas do GNT.
Não sei se seriam as mais fáceis, mas com certeza permitiriam caminhar mais leve...
Abraços