Quando uma filósofa aponta para a tela onde acabaram de passar uma série de testemunhos de mulheres africanos, sobre o que faz com que se sintam africanas e diz "Detesto aquilo alí. Aquilo é um mundo atrasado" eu fico aqui na minha calça frouxa a pensar se realmente somos capazes de transcender as barreiras culturais?
Lembrei logo da antropóloga Margareth Mead que tirou conclusões apressadas estudando a cultura sexual de Samoa, deduzindo aquilo que já tinha na própria mente - uma cultura sexual liberal - somente para anos depois ser desmentida pelo estudo de Derek Freeman que demonstrou que se tratava de uma cultura violenta e sexista.
Então agora falo eu: Me dou o direito de pensar que nenhuma cultura é melhor ou pior que outra. A cultura é a produção coletiva de um povo para facilitar a convivência entre seus membros e com o meio em que vide. Isso vale para uma empresa, família ou povo. Somos todos produto e produtores dela.
A cultura terá sempre a função da manutenção do status quo, a força do Instituído. E é contra essa rigidez que exercitamos nossa personalidade, que fortalecemos nossa capacidade instituinte.
Cada um de nós é como a gota de água escorrendo sobre a rocha.
Erodindo-a e transformando-a em algo novo.
Pois bem. Não quero, não posso, e não vou julgar a cultura de ninguém. Só posso admirá-la com a percepção estética, como quando ouço um samba, um blues ou um jazz, ainda que eu saiba que são o soluçar de dor dos trabalhadores arrancados de suas raízes (Clara Nunes - Canto das Três Raças).
Enquanto isso vou fazendo a minha parte para essa cultura em que me insiro se torne um belo e polido seixo, cada vez mais confortável para os pés que por eles tiverem de passar.
Paz!!!!